sexta-feira, 31 de julho de 2009

STF recebe parecer favorável ao sistema de cotas raciais em vestibular da Universidade de Brasília

Notícias STF

Quarta-feira, 29 de Julho de 2009
STF recebe parecer favorável ao sistema de cotas raciais em vestibular da Universidade de Brasília

Em parecer encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Procuradoria Geral da República (PGR) manifestou-se pelo indeferimento da medida cautelar proposta pelos Democratas (DEM) na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 186. A ação questiona o sistema de cotas raciais instituído pelas universidades públicas, especificamente pela Universidade de Brasília.

O procurador-geral, Roberto Gurgel, entendeu que a liminar deve ser negada porque ausente a plausibilidade das alegações apresentadas na petição inicial. Ele examinou a questão da "fumaça do bom direito", tendo em vista a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa questionadas.

Gurgel também considerou haver perigo na demora do julgamento, mas de modo inverso. Isso porque ressaltou que a concessão da cautelar “não apenas atingiria um amplo universo de estudantes negros, em sua maioria carentes, privando-os do acesso à universidade, como também geraria graves efeitos sobre as políticas de ação afirmativa de corte racial promovidas por inúmeras outras universidades espalhadas por todo o país”.

Segundo ele, a própria Constituição Federal consagrou expressamente políticas de ação afirmativa “em favor de segmentos sociais em situação de maior vulnerabilidade”. O procurador exemplificou citando que a CF prevê incentivos específicos para proteção da mulher no mercado de trabalho, além de estabelecer reserva percentual dos cargos e empregos públicos para pessoas portadoras de deficiência.

Roberto Gurgel destacou que “apesar de condenado socialmente, o racismo continua marcante nas relações sociais travadas no Brasil” e, por muitas vezes, ocorre de forma velada e cordial. “Tratar as pessoas como iguais pressupõe muitas vezes favorecer, através de políticas públicas àquelas em situação de maior vulnerabilidade social”, disse.

Para ele, um argumento essencial nessa questão é o da justiça distributiva, uma vez que a exclusão do negro na sociedade justifica medidas que o favoreçam “e que ensejem uma distribuição mais igualitária de bens escassos, como são as vagas em uma universidade pública, visando à formação de uma sociedade mais justa. “Esse argumento não tem em vista o passado, como o da justiça compensatória, mas sim a construção de um futuro mais equitativo”, completou Gurgel, ressaltando que outra justificativa importante para a ação afirmativa no ensino superior é a promoção do pluralismo.

De acordo com o procurador, as políticas de ação afirmativa baseadas em critérios raciais no ensino superior “também são positivas na medida em que quebram estereótipos negativos, que definem a pessoa negra como predestinada a exercer papéis subalternos na sociedade”.

Por fim, revelou que, atualmente, 35 instituições públicas de ensino superior adotam políticas de ação afirmativa para negros, sendo que 32 delas prevêem mecanismo de quotas e outras 3 adotam sistema de pontuação adicional para negros. Além disso, há também 37 universidades públicas com vagas reservadas para indígenas.

EC/IC

PGR dá parecer contrário à ação do Democratas que questiona cotas raciais da UnB

29 de Julho de 2009 - 20h34 - Última modificação em 29 de Julho de 2009 - 20h33


PGR dá parecer contrário à ação do Democratas que questiona cotas raciais da UnB

Marco Antonio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil


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Brasília - Em parecer encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Procuradoria-Geral da República (PGR) manifestou-se pela rejeição da ação ajuizada pelo partido Democratas (DEM) que questiona o sistema de cotas raciais instituído pela Universidade de Brasília (UnB).

Segundo o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a própria Constituição Federal consagrou expressamente as políticas de ação afirmativa “em favor de segmentos sociais em situação de maior vulnerabilidade”. Gurgel ressaltou ainda que o racismo continua marcante nas relações sociais brasileiras. A exclusão do negro na sociedade justificaria as medidas que o favorecem.

“Tratar as pessoas como iguais pressupõe muitas vezes favorecer, através de políticas públicas àquelas em situação de maior vulnerabilidade social”, afirmou Gurgel. “Esse argumento não tem em vista o passado, como o da justiça compensatória, mas sim a construção de um futuro mais equitativo”, acrescentou.

No parecer, Gurgel citou que 35 instituições públicas de ensino superior no Brasil adotam políticas de ação afirmativa para negros, sendo que 32 delas prevêem mecanismo de cotas e outras três adotam sistema de pontuação adicional para negros. Tais políticas no ensino superior, para o procurador, “quebram estereótipos negativos que definem a pessoa negra como predestinada a exercer papéis subalternos na sociedade”.

O procurador-geral ainda ressaltou que a eventual concessão do pedido do DEM pelo STF “atingiria um amplo universo de estudantes negros, em sua maioria carentes, privando-os do acesso à universidade”, além de gerar graves efeitos sobre as políticas de ação afirmativa promovidas por outras universidades.

Na ação ajuizada no último dia 21, os advogados do DEM alegaram que o sistema de cotas raciais da UnB viola diversos preceitos fundamentais fixados pela Constituição de 1988, como a dignidade da pessoa humana, o preconceito de cor e a discriminação, supostamente afetando o próprio combate ao racismo.

Edição: Lílian Beraldo

terça-feira, 28 de julho de 2009

Negro precisa ser brilhante para se destacar no meio acadêmico, diz antropólogo que motivou política de cotas


28/07/2009 - 09h21


Negro precisa ser brilhante para se destacar no meio acadêmico, diz antropólogo que motivou política de cotas


Da Agência Brasil


Em 1998 Arivaldo Lima Alves, estudante do curso de doutorado do Departamento de Antropologia da UnB (Universidade de Brasília), foi reprovado em uma disciplina obrigatória. Em 20 anos daquele programa de pós-graduação foi o primeiro aluno a ser reprovado. Dois anos após a reprovação, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão forçou o departamento a rever a menção e Arivaldo foi aprovado.O episódio, conhecido como "Caso Ari", estimulou o orientador de Arivaldo, o professor José Jorge de Carvalho, a elaborar no ano seguinte a primeira proposta de cotas, embrião do atual sistema que está sendo questionado no Supremo Tribunal Federal (STF) por ação do partido Democratas.

Onze anos após o episódio, Arivaldo, hoje professor adjunto de Antropologia da Universidade Estadual da Bahia, elogia a política de cotas adotada pela Universidade de Brasília (UnB) em entrevista à Agência Brasil.
Agência Brasil: O que você acha da política de cotas da UnB?
Arivaldo Lima Alves: É o primeiro programa entre as universidades públicas brasileiras que reserva vagas para negros e índios. Só por isso já tem uma grande importância. A partir do momento que a Universidade de Brasília, uma universidade pública federal, decide por adotar esse programa várias outras universidades tomam a mesma iniciativa e têm a universidade como referência. É um programa importante e que veio atender uma demanda social histórica.
ABr: A política de cotas existe há seis anos. Por que ela causa debate até hoje?
Arivaldo: Desde o final do século 19 e início do século 20, a sociedade brasileira, em especial as elites, vem elaborando um projeto de identidade nacional e de povo. Nesse projeto não cabia apontar e afirmar a identidade indígena e, muito menos, a identidade negra. Sabemos que de 1880 a 1930 o Brasil aprovou uma política imigratória que permitiu a absorção de quase 4 milhões de imigrantes brancos europeus. Em 300 anos de escravidão foi mais ou menos esse contingente de africanos que foi trazido forçadamente para o Brasil. Havia um projeto de embranquecimento. Depois disso, pouco a pouco, o país passa a se definir como nação mestiça. Na medida em que é aprovado um programa de reserva de vagas na universidade pública, no mercado de trabalho para negros e índios, esses projetos de nação são contestados. Se é afirmado que não existem apenas brancos e mestiços, mas também negros e índios é preciso levar em consideração demandas específicas. O Brasil aboliu a escravidão, mas não adotou nenhuma política pública para os ex-escravos ou para os descendentes de africanos que nos anos seguintes construíram a nação brasileira, mas não tiveram nenhum retorno material da contribuição que deram. Quando se adota um programa de cotas cria a possibilidade de que um segmento importante da população, cerca de 80% no caso da Bahia, exija acesso aos resultados da produção da riqueza, posições de prestígio, privilégios como participação na universidade brasileira e até postos de representação política. A Bahia nunca teve um governador negro ou Salvador teve um prefeito negro. Isso é um escândalo mas muito sintomático.
ABr: Como você vê o questionamento da política de cotas da UnB feita no STF pelo Democratas?Arivaldo: Não me espanta, vejo com uma certa naturalidade. Se o Democratas, que sempre representou os interesses hegemônicos na sociedade brasileira, fosse a favor da políticas de cotas seria algo estranho. É natural que o partido reaja. Já ouvi senador democrata afirmando que o problema racial não existe entre nós. É um tipo de afirmação que contesta os dados oficiais como os do Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada] e do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], que mostram que o acesso ao emprego, à educação, condições dignas de educação são diferenciados em relação a brancos e negros.
ABr: Há quem conteste as políticas de cota racial reconhecendo que a desigualdade existe mas é de classe e não de raça ou cor e, portanto, uma política de cota social seria mais objetiva, eficiente e mais justa. Esse argumento é falho?
Arivaldo: Aqueles que discordam das ações afirmativas para negros partem do princípio de que quem defende a política, como eu, acredita que exista a biologia das raças, a natureza das raças. Esse tipo de compreensão já caiu por terra desde a 2ª Guerra Mundial que exterminou judeus, negros, ciganos, homossexuais, ou seja, todos aqueles que eram considerados uma certa degeneração da humanidade. Para nós, a raça existe a partir de uma compreensão do negro socialmente. Defender cotas para negros é também defender vagas para aqueles que socialmente existem como tal. Eu não acredito que exista o negro como biologia, como raça. Mas a história social do negro nesse país, o modo como ele vive, o espaço onde ele está alocado nas grandes cidades, a representação que é feita dele nos meios de comunicação, na literatura ou no livro didático só evidencia que o negro a rigor não está em uma biologia das raças, mas é uma representação uma constituição do mesmo. Então, defender cotas para negros é defender cotas sociais.
ABr: Você acha que na universidade brasileira há racismo?
Arivaldo: Não tenho nenhuma dúvida disso. Basta ver a trajetória de alguns intelectuais negros. O Brasil tem intelectuais negros desde a primeira metade do século 20, mas se formos ver os anais da história poucos tiveram destaque. Um dos poucos que teve destaque foi o geógrafo Milton Santos, mas porque tinha um brilho excepcional e um tipo de trajetória dos negros que se destacam quando têm uma inteligência muito acima da média. Mas só se destaca um ou outro indivíduo não um grupo social como um todo.
ABr: Precisa ser brilhante?
Arivaldo: Mais do que brilhante, acima da média. Entre os brancos se destacam os brilhantes e os que não são tão brilhantes assim, mas que conseguem se adequar a uma certa expectativa ou reproduzir um certo modo de parecer ser brilhante.
ABr: Passados onze anos do episódio "Caso Ari" no Departamento de Antropologia da UnB, como avalia aquela situação?
Arivaldo: Foi uma experiência muito dolorosa que marcou minha trajetória pessoal, acadêmica e profissional. A partir dali eu redefini meu projeto pessoal e de inserção acadêmica. Essa obrigação de redefinir projetos trouxe certo desconforto. De outro ponto de vista, diria que não apenas eu, mas aqueles que estiveram do meu lado fomos vitoriosos. Uma questão que parecia ser de ordem pessoal ia ganhar a dimensão que teve e ia ter como resposta medidas que não beneficiariam diretamente a mim, mas um segmento que há séculos vem sendo abandonado e maltratado. Apesar da dor e dificuldade que eu particularmente tive, foi algo importante. Eu passei a compreender o que é a trajetória intelectual de um negro no Brasil, passei a entender de outra maneira o establishment da universidade pública brasileira e compreender como a ciência, como a antropologia, podia me ajudar a compreender a minha realidade, a minha condição de pesquisador e de cidadão.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Seppir quer audiência com Gilmar Mendes


Brasília - O ministro-interino da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Eloi Ferreira Araújo, disse que vai fazer gestões para provocar uma audiência entre os representantes da Universidade de Brasília (UnB) e o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, para debater a Ação de Inconstitucionalidade proposta pelo Partido Democratas (DEM), contra o sistema de cotas. O reitor em exercício da UnB, João Batista de Souza mandou ofício a Seppir manifestando preocupação com um possível constrangimento dos candidatos aprovados no Vestibular. "Vamos atender o pedido da UnB e procurar o presidente do STF, Gilmar Mendes, assim como já fizemos também contato com o advogado geral da União, José Antonio Dia Toffoli. Vamos somar todos os esforços possíveis para que o Supremo não recepcione o pedido de liminar do partido Democratas (DEM) para suspensão do sistema de cotas na UNB", anunciou Ferreira.No STF O presidente STF pediu à Advocacia Geral da União (AGU) e à Procuradoria Geral da República (PGR) que emitam parecer sobre o caso. Só depois será analisado o pedido de liminar ou, caso esteja encerrado o período de férias forenses, a ação será distribuída à relatoria de um dos ministros, para julgamento no plenário do STF, que retoma suas atividades no próximo dia 3 de agosto. De acordo com o antropólogo José Jorge de Carvalho, professor titular da UnB, o pedido de liminar do DEM deixou perplexos e indignados os alunos cotistas que atualmente cursam a UnB, cerca de 3.200 universitários. "Eles estão articulando uma forma de acolher esses calouros recém aprovados no vestibular, que a partir desta quinta-feira vão se dirigir à universidade para fazer a matrícula", diz José Jorge, que é um dos idealizadores do sistema de cotas na instituição.Com a autoridade de quem trabalha na construção de um banco de dados nacional sobre Inclusão no Ensino Superior - projeto no âmbito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - José Jorge contabiliza em 85 o número de instituições públicas que adotam ações afirmativas, sendo que 61 utilizam o critério étnico-racial. "Esses números, acumulados ao longo de oito anos, mostram que a consciência sobre a exclusão racial já está instalada. O que assistimos agora é uma manifestação da elite reacionária que não quer mudanças", conclui José Jorge.Tribunal do RioEnquanto o Secretário Adjunto e ministro interino Ferreira anunciava as gestões junto ao STF, o ministro chefe da Seppir, deputado Edson Santos, que está em férias, visitou na tarde desta quinta-feira (22/07), o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) Luiz Zveiter, com quem se reuniu juntamente com representantes de movimentos sociais favoráveis ao sistema de cotas para negros nas universidades.Um dos assuntos discutidos foi o estabelecimento de convênio entre o Tribunal e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) para viabilizar estágio de alunos cotistas. A intenção é seguir o exemplo da Universidade de Brasília e do Superior Tribunal de Justiça, que em 2005 firmaram acordo de cooperação institucional para oferta de bolsas de estágio aos estudantes admitidos pelo sistema de cotas para negros."Infelizmente temos poucos negros atuando como juízes e promotores. É necessário que o Judiciário e o Ministério Público estejam mais abertos para contemplar a diversidade étnica de nosso país", afirmou o ministro. O ouvidor da SEPPIR, Humberto Adami - que também participou da reunião - informou que foi agendada audiência para a próxima semana com a desembargadora Leila Mariano para detalhar a proposta de convênio. Entre os presentes à visita ao Tribunal estiveram Frei David, diretor Exeuctivo da Educafro, o ex-governador Marcello Alencar, o procurador do Estado Augusto Werneck e Renato Ferreira, pesquisador do Laboratório de Políticas Públicas da UERJ. A UERJ, ao lado da Universidade de Brasília (UnB), foi pioneira na adoção de reserva de vagas para negros e alunos egressos de escolas públicas. Por iniciativa do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), uma liminar suspendeu a lei que institui o sistema de cotas nas universidades públicas estaduais do Rio de Janeiro. O Tribunal de Justiça do estado, no entanto, tornou a liminar sem efeito para o processo de vestibular deste ano, que já havia sido iniciado. O julgamento do mérito está previsto para acontecer ainda neste semestre.
Fonte: AFROPRESS

terça-feira, 21 de julho de 2009

Ter colegas de quarto de outras raças reduz preconceito no campus

Vestibular e educação

O Portal de Notícias da Globo
18/07/09 - 12h00 - Atualizado em 18/07/09 - 12h00


Diversidade racial também melhora o desempenho de estudantes negros.Mas relacionamento entre os alunos pode ser mais estressante, diz estudo.
Tamar Lewin Do New York Times

Como calouro da Ohio State University e único estudante negro do seu andar, Sam Boakye estava determinado a tirar boas notas – em parte, para que seu colega de quarto branco não tivesse base para visões racistas. "Se você está cercado de brancos, tem algo a provar", disse Boakye, estudante do último ano, nascido em Gana. "Você é motivado a fazer melhor, a desafiar o estereótipo de que pessoas negras não são inteligentes."

Estudos recentes descobriram que ter um colega de quarto de uma raça diferente na faculdade pode diminuir o preconceito, diversificar as amizades e até melhorar o desempenho dos estudantes negros. No entanto, a pesquisa descobriu também que esses relacionamentos são mais estressantes e têm mais tendência a serem rompidos. Com as universidades cada vez mais diversificadas, e colegas de quarto de diferentes raças mais comuns, cientistas sociais os observaram como experimentos de campo naturais capazes de oferecer esclarecimentos sobre as relações raciais. "De uma perspectiva científica, quando esses colegas de quarto são convocados a compartilhar o dormitório, você tem um experimento natural acontecendo, numa área que é muito difícil de testar de forma empírica", disse Thomas E. Trail, estudante de pós-graduação em psicologia da Princeton University, que estuda colegas de quarto de diferentes raças. "Você não poderia iniciar um experimento determinando que pessoas passem vários meses vivendo com alguém de outra raça." Russell H. Fazio, professor de psicologia da Ohio State e estudioso do tema, descobriu um efeito acadêmico intrigante. Ao analisar dados sobre milhares de calouros da universidade que moram em dormitórios, ele descobriu que os estudantes negros que entraram com notas mais altas em testes padronizados tiveram notas melhores se tinham um colega de quarto branco – mesmo se as notas desse colega fossem baixas. A raça do colega de quarto não tinha efeito sobre as notas dos estudantes brancos ou estudantes negros com notas de admissão baixas. Talvez, especulou o estudo, ter um colega de quarto branco ajude academicamente estudantes negros preparados a se adaptar a uma universidade predominantemente branca. Esse mesmo estudo descobriu que colegas de quarto de raça diferentes alocados de forma aleatória se separavam antes do fim do trimestre com o dobro da frequência de colegas de quarto da mesma raça. Pelo fato de que as relações inter-raciais são geralmente problemáticas, disse Fazio, muitos estudantes gostariam de mudar de quarto, mas as diretrizes de alojamento universitário dificultam essa mudança. "Na Indiana University, onde o alojamento não era tão apertado, mais colegas de quarto de raças diferentes se separaram", disse ele. "Aqui na Ohio State, onde havia uma escassez de dormitórios, eles foram orientados a resolver a situação. A coisa mais interessante que descobrimos foi que, se o relacionamento conseguisse continuar por apenas dez semanas, veríamos uma melhora nas atitudes em relação à raça." O estudo de Fazio descobriu que três vezes mais estudantes de raças diferentes alocados aleatoriamente não estavam mais morando juntos ao final do semestre, em comparação com colegas de quarto brancos. Os colegas de raças diferentes passaram menos tempo juntos e não se envolveram tanto com os amigos do colega de quarto, em relação aos colegas brancos. O estudo ainda descobriu que as atitudes racistas preexistentes dos brancos previam quais colegas de quarto se separariam. Vários estudos mostram que morar com um colega de quarto de raça diferente muda as atitudes de um estudante. Um estudo, realizado na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, descobriu uma redução geral no preconceito entre estudantes com colegas de quarto de outra raça – mas aqueles que dividiram o dormitório com asiáticos-americanos, o grupo com maior grau de preconceito, se tornaram ainda mais preconceituosos. Profissionais que observam as relações entre colegas de quarto afirmam que a alocação de estudantes de raças diferentes no mesmo dormitório é uma parte importante da diversidade no campus. "A maioria deles não tem problemas, e acho que isso pode ser mais interessante, pois eles têm mais a aprender um com o outro", disse Phil Badaszewski, diretor do dormitório da Ohio State. "Quando existem conflitos, geralmente trata-se de ideias diferentes sobre a divisão das coisas, ou música, ou limpeza, ou chegar tarde da noite no dormitório – coisas que também podem representar problemas para colegas da mesma raça."

Às vezes, essas disputas mascaram questões raciais implícitas. "Tive um aluno que escolheu se mudar. Ele disse que simplesmente não gostava dos amigos do colega de quarto, pois eram muito barulhentos", disse Badaszewski. "Achei que havia um pouco de racismo ali, mas não trouxe o assunto à tona. É um daqueles temas – raça, religião e política – sobre os quais seus pais recomendam não falar durante um jantar. E, naquele caso, sabia que não melhoraria as coisas." Ocasionalmente, ocorrem problemas raciais explícitos. "Tive uma aluna negra que ouviu comentários racistas no seu quarto", disse Gina Kozlowski, outra diretora do dormitório da Ohio State. "Ela disse que não queria ser transformada em espetáculo, e que não queria ser a pessoa que educaria suas colegas de quarto em relação a raça." Um novo estudo, realizado com estudantes de Princeton, usou questionários diários para monitorar as interações e percepções entre colegas de quarto. "Nas primeiras semanas de relacionamento, as emoções positivas diminuíram para a maioria dos estudantes com colegas de quarto brancos", disse Trail, um dos autores do estudo. "Não que os estudantes brancos começaram a ser maus ou negativos. Em vez disso, houve uma diminuição de comportamentos positivos, como sorrir ou fazer contato visual, que levaram os estudantes das minorias a se sentirem pior." Um estudo com alunos da Duke University descobriu que os estudantes brancos, com menos probabilidade de terem tido amigos próximos de outras raças, eram os que tinham mais tendência a desenvolver mais amizades diversificadas enquanto calouros – em contraponto, alunos negros, que entravam na universidade com mais amizades inter-raciais, tiveram um declínio nesse tipo de amizade no último ano. O estudo encontrou poucas diferenças entre o primeiro e o último ano de faculdade na diversidade das amizades de alunos asiáticos e hispânicos. Calouros com colegas de quarto de outra raça – ou aqueles que moravam sozinhos num dormitório – foram os que tiveram mais tendência a diversificar suas amizades. "Ter diversidade somente nas salas de aula não aumenta as amizades entre as raças", disse Claudia Buchmann, professora associada de sociologia da Ohio State e autora do estudo da Duke. "Porém, a intimidade de compartilhar residências, sem colega de quarto, ou com um colega de quarto de outra raça, leva a amizades mais diversificadas." Estudantes da minoria, num ambiente predominantemente branco, disse Buchmann, geralmente se encasulam ao andar em grupos. Conselheiros negros e brancos da Ohio State disseram ser comum que calouros negros busquem outros alunos negros. "Existem organizações no campus especificamente projetadas para ajudar estudantes das minorias, e muitas vezes esses estudantes tentam encontrar seus amigos através desses grupos", disse Ellen Speicher, conselheira da Ohio State, branca e mãe de um aluno do penúltimo ano. "Faz sentido, num campus predominantemente branco." Boakye, conselheiro há dois anos, disse haver conforto em andar em grupos. "Sendo uma minoria na Ohio State, tentamos permanecer juntos, nos unir como uma comunidade", disse ele. "É diferente para os brancos." "Muitos deles vêm aqui sem muita exposição à diversidade", disse Boakye, "então, quando a primeira experiência deles com um rapaz negro não é tão ruim, eles vão e fazem mais amigos negros. Acho que causei uma boa impressão no meu colega de quarto no primeiro ano. Quando o vi este ano, ele disse, 'Ei, cara. Você não é o único amigo negro que tenho'. Isso é bom".

terça-feira, 14 de julho de 2009

Estudo diz que brancos são mais racistas do que pensam




A maioria dos brancos diz que reagiria enfaticamente ao racismo, mas se omite quando vê casos reais de preconceito, segundo estudo divulgado na quinta-feira por pesquisadores dos EUA e Canadá.


"As pessoas não se consideram preconceituosas, e prevêem que ficariam muito aborrecidas com um ato racista e que agiriam", disse Kerry Kawakami, professor da Universidade York, de Toronto (Canadá), cujo estudo foi publicado na revista Science. "Entretanto, descobrimos que suas reações são muito mais silenciosas do que eles esperavam quando realmente são postos diante de um comentário abertamente racista", disse Kawakami em nota.
Os pesquisadores avaliaram o comportamento de 120 estudantes brancos do Canadá que foram expostos a uma situação racista quando pensavam estar esperando que a experiência começasse.
Um falso participante negro saía da sala por alguns instantes, e outro falso participante, este branco, fazia um comentário racista. O teor do comentário variava de moderado e extremamente ofensivo. Quando o aluno negro voltava, os verdadeiros participantes eram convidados a escolher parceiros para um exercício subsequente.
De acordo com os pesquisadores, 63 por cento dos alunos escolhiam a pessoa que fizera os comentários racistas.
"Ficamos todos surpresos com a discrepância entre o que as pessoas pensavam que fariam e o que realmente fariam quanto postas nessa situação", disse portelefone John Dovidio, da Universidade Yale (Connecticut, EUA), que também colaborou no estudo. "Elas não rejeitavam a pessoa que fez um óbvio comentário racista, e na verdade demonstravam uma ligeira tendência a querer trabalhar com essa pessoa", disse ele. Quem passou pela situação ficou muito menos perturbado do que pessoas que leram a respeito ou viram um vídeo. Estas se declaravam muito menos propensas a trabalhar com o racista. "Parte disso pode se dever à situação. Não temos muito prática sobre como responder", disse Dovidio. Ironicamente, disse ele, muitos outros estudos concluíram que pessoas confrontadas depois de fazerem declarações racistas se tornam muito menos propensas a repeti-las. "Ao não fazer nada você na verdade está contribuindo com uma sociedade que será racista no futuro", disse ele.


Fonte: CHICAGO (Reuters)

Comissão aprova criação do Dia da Mulher Negra


Destaques Senador(es) Relacionado(s): Gilberto GoellnerPaulo PaimSerys SlhessarenkoValter Pereira


Situação da mulher negra brasileira deverá ser debatida a cada dia 25 de julho, quando passaria a ser celebrado o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, segundo o projeto (PLS 23/09) da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) aprovado ontem em decisão terminativa pela Comissão de Educação.


Em 25 de julho, assinalou o relator, Paulo Paim (PT-RS), já se celebra o Dia Internacional de Luta da Mulher Negra da América Latina e do Caribe. O símbolo dessa luta no Brasil, explicou, é Tereza de Benguela, líder quilombola do século 18, que resistiu por mais de 20 anos à escravidão à frente do Quilombo do Quariterê (MT).

Outros três projetos de senadores, aprovados pela CE, criam datas nacionais: Gilberto Goellner (DEM-MT) propõe o Dia do Distribuidor de Insumo Agrícola e Veterinário; Valter Pereira (PMDB-MS) quer instituir o Dia da Comunidade Libanesa no Brasil; Cristovam Buarque sugere o Dia do Piso Salarial dos Professores. A comissão aprovou ainda dez projetos que autorizam a criação de instituições de ensino em diversas partes do país.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Lançado relatório sobre Violência Racial



Violência Racial

Geledés Instituto da Mulher Negra e Global Rights Partner for Justice lançaram no último dia 30/6 o relatório Violência Racial: uma leitura sobre os dados de homicídios no Brasil. O estudo reúne e articula um conjunto de dados estatísticos, análises e pesquisas produzidas por diferentes fontes sobre mortes violentas no Brasil.
Segundo Rodnei Jericó, autor do estudo e coordenador do Programa SOS Racismo, "diferentes fatores interagem na produção da violência letal mas a a cor é a única variável que está presente em todos os campos de análise. O racismo coloca negros no topo do ranking de vítimas de mortes violentas mas o perfil racial das mortes violentas no país continua silenciado nas reflexões e discussões sobre o tema. Com o relatório, procuramos fomentar ações de enfrentamento ao racismo que contribuam para a promoção do direito à vida dos negros brasileiros."
O evento contou com a participação da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo, da Coordenadoria do Negro do município de São Paulo, além da participação de diversas entidades da sociedade civil que atuam pelos direitos humanos. Vale ressaltar a grande participação e contribuição de jovens negros ao debate.
Para Samoury Barbosa, da Articulação Política da Juventude Negra, é irrefutável o genocídio da juventude negra e faz ressalvas aos dados de homicídios: "É necessário atenção para o fato de que nos dados de percentual racial atribuído à brancos, certamente é composta também por afrodescendentes, o que eleva o número de mortes de negros. Outro ponto para reflexão é que não são disponibilizadas informações sobre números de pessoas jovens desaparecidas, dados que tornariam a situação mais drástica."
Foram convidados a participar do evento representantes do Ministério Público Estadual e Federal, da Defensoria Pública, da Secretaria Estadual de Segurança Pública, da Ouvidoria de Polícia entre outros órgãos públicos, mas eles não se fizeram representar. Para Rodnei, "a ausência destes órgãos reflete a resistência e o desinteresse em discutir o tema."
O evento contou com o depoimento emocionado e emocionante de Andre Luiz de Souza, jovem negro de 29 anos, que no início deste ano foi abordado por policiais do Grupo de Operações Táticas da polícia civil de São Paulo, que foi obrigado a sair do táxi em que estava e foi alvejado com dois tiros sem ter esboçado qualquer reação. O caso está sendo acompanhado pelo SOS Racismo.
Fonte:http://geledes.org.br

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Negros estão entre os mais pobres


Brasília - Os negros no Brasil tem os menores salários, menor nível de escolaridade e são maioria entre os trabalhadores que estão na informalidade, segundo dados do economista Mário Theodoro, diretor de Desenvolvimento e Cooperação do IPEA. Segundo Theodoro, durante todo o período pós-guerra, o país teve taxas de crescimento superiores ao Japão e Alemanha, enquanto manteve a maioria da população negra abaixo dos índices de pobreza.Os dados foram divulgados pelo diretor do IPEA, durante o painel “as políticas públicas de emprego e renda e a promoção da igualdade racial no mercado de trabalho. De acordo com os estudos do IPEA 60,4% dos negros estão ocupados em atividades agrícolas, 60,8% em serviços domésticos e 59,5% na construção civil. A População Economicamente Ativa é de 98,8 milhões e deste total 49,8% são negros e 8,2% estão desempregados. “Não significa que o país é pobre, mas que divide mal sua renda”, afirmou.O painel sobre as Políticas de Emprego, mediado pelo sociólogo João Carlos Nogueira, teve exposições de Valdir Moysés Simão, presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do coordenador de Estudos e Desenvolvimento do DIEESE, Ademir Figueiredo.

Fonte: AFROPRESS