quarta-feira, 13 de maio de 2009

Manifesto





Após vários adiamentos, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado pretende finalmente votar HOJE dia 13 de maio (data dos 121 anos da incompleta Abolição) o projeto que reserva vagas nas universidades federais para pessoas negras e índias.

http://www.senado.gov.br/agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=90669&codAplicativo=2&parametros=cotas+negros

No site da Agência Senado, há uma enquete com a pergunta: “Em sua opiniãoqual seria a melhor opção para adoção do sistema de cotas para asuniversidades públicas?”, o resultado é o seguinte:

*Cotas raciais - 6,289%
*Cotas sociais - 39,20%
*Não concordo com o sistema de cotas - 54,50%

Portanto é importante que todos aqueles que são favoráveis as cotas para negros e índios entrem no site e deixem o seu voto.

[http://www.senado.gov.br/agencia]

Notícias dão conta de que apenas 6 dos 23 senadores que formam a comissão são favoráveis ao ingresso de negros e índios nas universidades através das cotas.
[http://www.diariodepernambuco.com.br/2009/04/24/brasil2_0.asp]


Novamente contamos com todos para repassar esta mensagem para aqueles que também apoiam essa medida, por sonharem com um Brasil mais justo.

Vejam neste trecho do artigo "A casa da sogra não é aqui", de Elio Gaspari, como o discurso que se faz hoje contra o ingresso de negros e índios nas universidades através das cotas, é o mesmo que se fazia contra o fim da escravidão:

"Com o propósito de ilustrar o debate em torno da instituição de cotas para permitir a matrícula de negros aprovados no vestibular nas universidades públicas brasileiras, publicam-se abaixo algumas opiniões de políticos ilustres durante os debates daquilo que se denominava no fim do século XIXde 'questão servil".

A escravidão é condenável, mas a Abolição é um perigo fala o deputado liberal Felício dos Santos, em 1884:

'Senhores, não preciso dizer-vos que detesto a escravidão, como a detestam todos os brasileiros, todos os povos civilizados. (...) Ninguém no Brasil sustenta a escravidão pela escravidão, mas não há um só brasileiro que nãose oponha aos perigos e às calamidades da desorganização do atual sistema detrabalho'.

A Abolição é uma injustiça. Diz o deputado Almeida Nogueira, em 1884:

'Se a escravidão é uma violência, a emancipação sem a indenização é uma violência da mesma natureza. Seria procurar reparar uma injustiça com outra injustiça'.

A Abolição é uma ilegalidade. Com a palavra o valoroso Cansansão de Sinimbu:

'Sem indenização a alforria de escravos, velhos ou moços, é um ataque aodireito de propriedade, garantido em toda a sua plenitude pela Constituição do Império'.

O negro será o perdedor. Fala o deputado Dias Carneiro, em 1885:

'Que gênero de felicidade proporciona-se a um sexagenário, que passou toda a vida no cativeiro, onde formou hábitos, adquiriu necessidades, relações, oferecendo-lhe a liberdade quando mais precisa da proteção dos seus senhores, que em geral não lha negam?'.

A libertação é cruel. Explica o deputado Olimpio Campos, também em 1885:

'Não é humanitário, não é civilizador libertar escravos velhos. A liberdade como um favor da lei, a quem não pode gozar dela, é um presente cruel'.

A Abolição pede calma. Fala o deputado Dias Carneiro, em 1871:

'Não devíamos, pois, fazer questão do tempo, porque ele é indispensável em questões desta ordem, que se prendem aos interesses sociais, por múltiplas relações; questões complexas, que devem resolver-se em todas as suas partes,e só o tempo é capaz de produzir uma solução harmônica'.

A Abolição é demagogia. O deputado Moreira Barros achava imprudente deixar que o debate da questão servil prosperasse na rua:

'(Ele vai) dar aos escravos maiores esperanças do que as que podem corresponder à realidade, embalando esses pobres espíritos com idéias que não são exatas, que não têm o alcance que eles supõem, e que, introduzindo-os em erro, têm dado em resultado tantas calamidades, tantas injustiças'.

Nenhum dos seis doutores tinha preconceito contra os negros, eles acreditavam que a questão servil devia ser resolvida com tempo e calma,muita calma. Serviço:

As citações foram tiradas do livro 'Entre a mão e os anéis - A lei dos sexagenários e os caminhos da Abolição no Brasil', da professora Joseli Maria Nunes Mendonça, da Universidade Metodista de Piracicaba, editado pela Unicamp".

Interessante observar que um político brasileiro do século XIX, Joaquim Nabuco, definia o Abolicionismo não apenas como a luta pela libertação dos escravizados, mas como uma luta para "apagar todos os efeitos" da escravidão. Destacamos aqui o que ele escreveu em seu livro "O Abolicionismo" em 1883:

"O Abolicionismo, porém, não é só isso [...] não reduz a sua missão apromover e conseguir - no mais breve prazo possível - o resgate dos escravose dos ingênuos. Essa obra - de reparação, vergonha ou arrependimento, como a queiram chamar - da emancipação dos atuais escravos e seus filhos É APENAS A TAREFA IMEDIATA DO ABOLICIONISMO. ALÉM DESSA, HÁ OUTRA MAIOR, A DO FUTURO: ADE APAGAR TODOS OS EFEITOS DE UM REGIME que, há três séculos, é uma escolade desmoralização e inércia, de servilismo e irresponsabilidade para a castados senhores..."

Esses efeitos destes quase 400 anos de vergonhosa escravidão o Brasil não apagou até hoje, como podemos ver nos dados apresentados pelo professor da USP Kabengele Munanga em seu texto "Políticas de Ação Afirmativa em Benefício da População Negra no Brasil - Um Ponto de Vista em Defesa deCotas", de 2001:

"Do total dos universitários, 97% são brancos, sobre 2% de negros e 1% de descendentes de orientais.

Sobre 22 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, 70% deles são negros.

Sobre 53 milhões de brasileiros que vivem na pobreza, 63% deles são negros."

Esses dados, em um país onde METADE da população é negra, mostram como até hoje a Abolição não se completou.

Voltando a citar Joaquim Nabuco, no mesmo livro ele escrevia, em 1883, que:

"mesmo que a emancipação total fosse decretada amanhã [...] SERÁ AINDA PRECISO DESBASTAR, POR MEIO DE UMA EDUCAÇÃO VIRIL E SÉRIA, A LENTA ESTRATIFICAÇÃO DE TREZENTOS ANOS DE CATIVEIRO".

Como um político do século XIX Joaquim Nabuco não escapou de apresentar também um abjeto e inaceitável racismo, mas vemos que em várias de suas propostas ele estava muito a frente de grande parte dos atuais políticos,além de educação, ele defendia que os libertos recebessem terras, ao finaldo seu livro escreveu:

"A meu ver, a emancipação dos escravos e dos ingênuos, [assim se chamavam os filhos das pessoas escravizadas] posso repeti-lo porque esta é a idéia fundamental deste livro, é o começo apenas da nossa obra."

Mas em vez de educação ou terras, as famílias negras foram simplesmente despejadas nas ruas, aqueles que haviam construído absolutamente tudo no Brasil em quase 400 anos de exploração foram mandados embora sem recebernada, despejados nas ruas sem dinheiro, sem ter para onde ir, onde morar, oque comer, após séculos de escravidão e injustiças. Para trabalhar no seulugar como assalariados foram trazidos milhares de trabalhadores brancos que receberam apoio, ações afirmativas do Estado, e aos negros sempre foi negado, nesses 121 anos após aquela data, a igualdade de oportunidades. Portrás de execráveis rótulos racistas como os que falam em "Boa Aparência"(como se apenas pessoas brancas a possuíssem) os negros continuam sendodiscriminados até hoje no mercado de trabalho e em todas as áreas.

O cantor e compositor MV Bill disse o seguinte sobre as cotas:

"São uma resposta às posições que tivemos no Brasil. Esse desequilíbrio quenós temos [...] vem desde a época da escravidão, quando foi assinada a lei Áurea e não se teve divisão de bens e terras. A partir daquele momento foramcriadas duas sociedades. [...]
Eu particularmente gostaria muito que as cotas não fossem necessárias, é o que eu queria. [...] Eu ia nessas palestras em universidades e comecei a identificar algumas coisas. Depois que eu descobri que o ‘E’ de UERJ é estadual e o ‘F’ de UFRJ é federal, eu pensei: Pô, mas não são esses carros importados do ano que deveriam estar aqui nesse estacionamento. As pessoas da mesma cor que eu não poderiam estar só na cozinha, na limpeza ou na segurança. Ali está o erro. As universidades publicas são usadas de maneira errada."

Martin Luther King disse algo que se aplica bem também ao nosso contexto,ele disse:

"É óbvio que, se um homem chega com 300 anos de atraso ao ponto de largadade uma corrida, terá que fazer um tremendo esforço para alcançar o outro corredor".

King também disse que:

"Uma sociedade que fez coisas especiais contra o negro durante centenas de anos agora precisa fazer alguma coisa especial por ele, equipando-o para competir numa base justa e igual".

É interessante citar também aqui um trecho do artigo de Kabengele Munanga emque ele fala da experiência norte-americana com as ações afirmativas:

"Nos Estados Unidos, onde foram aplicadas desde a década de sessenta, elas pretendem oferecer aos afro-americanos as chances de participar da dinâmicada mobilidade social crescente. Por exemplo: os empregadores foram obrigadosa mudar suas práticas, planificando medidas de contratação, formação e promoção nas empresas visando a inclusão dos afroamericanos; asuniversidades foram obrigadas a implantar políticas de cotas e outras medidas favoráveis à população negra; as mídias e órgãos publicitários foram obrigados a reservar em seus programas uma certa percentagem para a participação dos negros. No mesmo momento, programas de aprendizado detomada de consciência racial foram desenvolvidos a fim de levar a reflexão aos americanos brancos na questão do combate ao racismo. [..] Foi graças aela que se deve o crescimento da classe média afro-americana, que hoje atinge cerca de 3% de sua população, sua representação no Congresso Nacional e nas Assembléias estaduais; mais estudantes nos níveis de ensino correspondentes ao nosso ensino médio e superior; mais advogados,professores nas universidades, inclusive nas mais conceituadas, mais médicos nos grandes hospitais e profissionais em todos os setores da sociedade americana. Apesar das críticas contra ação afirmativa, a experiência das últimas quatro décadas nos países que implementaram não deixam dúvidas sobreas mudanças alcançadas."

Gostaríamos apenas de lembrar também, hoje 13 de maio, que a luta pela liberdade foi uma obra dos negros desde que o primeiro chegou neste país,desde os primeiros quilombos, Zumbi dos Palmares e seus guerreiros, a Revolta dos Malês que foi a maior insurreição urbana de pessoas escravizadas nas Américas, e tantos outros, Luiz da Gama ficou famoso pela frase:

"O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa."

Recomendamos também esta entrevista do Dr. José Vicente, reitor da Unipalmares no youtube:
[http://www.youtube.com/watch?v=swAPhsTMa0A]

Pedimos a todos que escrevam ao senado pedindo a aprovação do projeto,mesmo os que já escreveram. Se aprovado nesta comissão, o projeto ainda deve passar por outras comissões para ser votado em plenário. Por isso, é muito importante que, mesmo após está data, todos continuem escrevendo para os senadores.

EMAIL DOS SENADORES:

*Bloco 1*
* *
geraldo.mesquita@senador.gov.br;siba@senador.gov.br;tiao.viana@senador.gov.br; webmaster.secs@senado.gov.br;jtenorio@senador.gov.br; arthur.virgilio@senador.gov.br;jefperes@senador.gov.br; joaopedro@senador.gov.br;gilvamborges@senador.gov.br; sarney@senador.gov.br; papaleo@senador.gov.br;acmjr@senado.gov.br; cesarborges@senador.gov.br; joaodurval@senador.gov.br;inacioarruda@senador.gov.br; patricia@senadora.gov.br;tasso.jereissati@senador.gov.br; adelmir.santana@senador.gov.br;cristovam@senador.gov.br; gim.argello@senado.gov.br; gecamata@senador.gov.br;magnomalta@senador.gov.br; renatoc@senador.gov.br;demostenes.torres@senador.gov.br; lucia.vania@senadora.gov.br;marconi.perillo@senador.gov.br; edison.lobao@senador.gov.br;ecafeteira@senador.gov.br; roseana.sarney@senadora.gov.br;eduardo.azeredo@senador.gov.br; eliseuresende@senador.gov.br;wellington.salgado@senador.gov.br; delcidio.amaral@senador.gov.br;marisa.serrano@senadora.gov.br; valterpereira@senador.gov.br;jayme.campos@senador.gov.br; jonaspinheiro@senador.gov.br;serys@senadora.gov.br; flexaribeiro@senador.gov.br; josenery@senador.gov.br;mario.couto@senador.gov.br; cicero.lucena@senador.gov.br;efraim.morais@senador.gov.br; jose.maranhao@senador.gov.br;

*Bloco 2*
* *
jarbas.vasconcelos@senador.gov.br; marco.maciel@senador.gov.br;sergio.guerra@senador.gov.br; heraclito.fortes@senador.gov.br;j.v.claudino@senador.gov.br; maosanta@senador.gov.br;alvarodias@senador.gov.br; flavioarns@senador.gov.br;osmardias@senador.gov.br; francisco.dornelles@senador.gov.br;crivella@senador.gov.br; paulo.duque@senador.gov.br;garibaldi.alves@senador.gov.br; jose.agripino@senador.gov.br;rosalba.ciarlini@senadora.gov.br; expedito.junior@senador.gov.br;fatima.cleide@senadora.gov.br; valdir.raupp@senador.gov.br;augusto.botelho@senador.gov.br; mozarildo@senador.gov.br;romero.juca@senador.gov.br; paulopaim@senador.gov.br; simon@senador.gov.br;sergio.zambiasi@senador.gov.br; ideli.salvatti@senadora.gov.br;neutodeconto@senador.gov.br; raimundocolombo@senador.gov.br;almeida.lima@senador.gov.br; antval@senador.gov.br;maria.carmo@senadora.gov.br; mercadante@senador.gov.br;eduardo.suplicy@senador.gov.br; romeu.tuma@senador.gov.br;joaoribeiro@senador.gov.br; katia.abreu@senadora.gov.br;leomar@senador.gov.br;

Fonte: email enviado por ativismonline07@gmail.com

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